terça-feira, 21 de agosto de 2012

Crer, mesmo contra a esperança.


Crer, mesmo contra a esperança.

Romanos 4:18-21
"18 - O qual, convicto, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência.
19 - E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara.
20 - E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus,
21 - E estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer."

Existem momentos em que até a própria esperança diz para nós desistirmos. Não são poucas as vezes que nos deparamos com momentos assim e o mais surpreendente é que, mesmo com toda a nossa confiança em Deus, muitas vezes somos pegos de surpresa por estas situações.
Muitas foram as vezes que eu me perguntei o porquê de Deus permitir, na vida daqueles que lhe servem, situações assim, que são capazes até de destruir a esperança de alguém. Um dia durante um momento de oração e pranto, eu alcancei a graça de receber a resposta de Deus para esta pergunta. E a resposta é: "Eu permito situações assim para que meus filhos aprendam que a fé e a esperança são coisas distintas e separadas e que, apesar da esperança poder ser destruída, a fé pode permanecer e ressuscitar a esperança destruída".
Isso pode parecer estranho, afinal sempre ouvimos que a fé e a esperança são sinônimos de confiar em Deus, mas a bíblia testifica de que a fé e a esperança são coisas distintas: "Agora pois permanecem a , a esperança, o amor, estes Três; ..." (1 Co 13.13). Como Deus não erra matemática, se a fé e a esperança fossem a mesma coisa, Deus teria dito "estes Dois". Qual é então a diferença entre a Fé e a Esperança? A diferença está no foco. Mas o que isso significa?
Pode ser duro para nós admitirmos, mas a verdade é que a esperança está baseada, firmada, no nosso ego, no nosso EU. "Mas não pode ser ! A minha esperança está firmada em DEUS, somente nEle, não no meu ego !!!" Talvez seja essa a sua reação à minha premissa. Mas eu te convido a fazer uma análise franca: O que é a esperança??? A esperança é a expectativa (ou a certeza da expectativa) de que uma situação ou circunstância vai ser resolvida (por Deus ou por outra pessoa) da maneira como EU quero que seja resolvida, no tempo que EU acho que deveria ser resolvida. Resumindo a esperança é a expectativa (ou a certeza da expectativa) de que o que EU quero seja feito. Se você analisar com atenção cada uma das suas esperanças vai perceber isso que estou dizendo.
Quando vemos uma injustiça e temos esperança de que a justiça vai prevalecer, a nossa expectativa é que o NOSSO padrão de justiça prevaleça. Quando vemos algo errado e temos a esperança de que alguém faça o correto, a nossa expectativa é que alguém faça o que NÓS achamos correto. Quando temos a esperança de que alguém que amamos muito, doente, pare de sofrer através de uma cura, isto é simplesmente a expectativa do NOSSO desejo pela vida da pessoa que amamos, afinal a parada do sofrimento também pode vir pela morte, mas a nossa esperança é pela cura, certo? Por que? Simplesmente porque NÓS não queremos a morte daqueles que amamos. Quando temos a expectativa de que algo vai acontecer diferente do que NÓS desejamos, não chamamos essa expectativa de esperança, mas de desilusão. É exatamente pelo fato de estar firmada no “EU” que a esperança pode ser destruída. Algumas vezes até por Deus.
Gênesis 17:15-19
"15 - Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome.
16 - Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela.
17 - Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos?
18 - E disse Abraão a Deus: Quem dera que viva Ismael diante de teu rosto!
19 - E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua descendência depois dele."

E a Fé? A fé sim pode ser colocada como sinônimo de confiança em Deus. A palavra “fé” tem um sentido muito interessante quando analisado o seu uso na Bíblia Sagrada. A Fé, que a Bíblia recomenda que nós tenhamos em Deus, é escrita no texto original em grego pela palavra “pistiς” (pistis) que significa “acreditar e se apoiar em”. Desta forma a verdadeira fé em Deus significa “acreditar e se apoiar em Deus” Quando nos apoiamos em Deus encontramos a firmeza necessária para suportar a pior das tempestades. Ao entendermos que fé significa encontrar apoio em Deus, outras expressões bíblicas começam a tomar sentidos interessantes e começam a expressar VIDA de uma forma muito mais intensa ! “... aquele que ouve as minhas palavras e as guarda, compará-lo-ei ao homem prudente que EDIFICOU a sua casa sobre a Rocha. E desceu a chuva, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; Contudo não a conseguiram derrubar, ela não caiu, porque ela estava FIRMADA na Rocha.” (Mt 7.24-25). “Os que confiam no Senhor são como o monte Sião que não se abala, mas permanece para sempre” (Sl 125.1).
Um texto muito interessante pode ser encontrado na Carta aos Hebreus no capítulo 11, no verso 6: “Ora sem fé é impossível agradar a Deus, pois é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia (em quê?) que Ele existe e que é galardoador daqueles que o buscam” A primeira crença é de senso comum: crer que Ele EXISTE. Não há muito o que se discutir sobre isso, pois todos cremos que Ele existe, queremos apenas acrescentar que essa crença é o primeiro aspecto da fé (acreditar em). Já a segunda crença é muitas vezes deixada de lado durante a explicação deste versículo e muitas vezes é mal interpretada. Vejamos: A palavra galardão significa “recompensa”. Muitos interpretam esse “galardão” dado por Deus como Bênçãos materiais que Deus se compromete a dar no presente para aqueles que o buscam. Essa visão vem da grande influência que a teologia da prosperidade tem alcançado em nosso meio. Para refutar esta interpretação materialista basta apenas ler o resto do capítulo 11 da Carta aos Hebreus, onde vemos que todos aqueles citados no capítulo, sem exceção, que buscaram a Deus, colheram lutas e livramento, vitórias, mas nada de bens materiais, passando pelo ápice de dizer que Moisés preferiu ter a riqueza do opróbrio de Cristo em vez da riqueza dos tesouros do Egito (v. 26).
Outros mais espiritualistas preferem interpretar esse “galardão” de Deus como sendo uma referência os galardões (recompensas) que Deus dará aos seus filhos no futuro, no julgamento do Tribunal de Cristo, após o arrebatamento da Igreja ou como sendo o cumprimento das promessas celestiais para a igreja após a sua chegada no Céu. Essas visões também podem ser refutadas no próprio texto em discussão de Hebreus. Ora se este galardão de que fala a Carta aos Hebreus é algo a ser recebido no futuro, caímos no problema do tempo verbal do versículo 6, pois o texto não diz que Deus será galardoador (atitude futura), mas diz que Deus é galardoador (atitude presente). Portanto esse galardão não é algo para recebermos no futuro, mas é algo que Deus entrega no presente. A Bíblia fala em vários textos de galardões futuros, mas não é este o sentido do texto de Hebreus.
Outros ainda mais espiritualistas afirmam que esse galardão de Hebreus 11.6 é a salvação, “a maior dádiva de Deus para o homem”. Realmente a salvação é a maior dádiva de Deus para o homem, mas a análise doutrinária descarta essa interpretação, pois galardão significa “recompensa” e a salvação não é recompensa, É GRAÇA. A Carta aos Efésios, em 2.8-9, diz que a salvação não é por obras e se não é por obras então ela não tem nada a ver com merecimento e se não tem nada a ver com merecimento então ela não pode ser uma recompensa, um galardão. Vale também lembrar que a salvação não é fruto do homem buscar a Deus (fator decisivo do galardão de Hebreus 11.6), mas de Deus amar o homem e, através de Cristo, de Deus vir buscar o homem, oferecendo-lhe a salvação. Disto tudo conclui-se que o sentido daquele galardão também não pode ser salvação.
Portanto qual o sentido da expressão de que Deus “é galardoador daqueles que o buscam”? A solução deste problema, nós vamos encontrar no segundo aspecto da Fé (se apoiar em). Quando uma pessoa se aproxima de outra e passa a conviver com ela, ela começa a conhecer esta pessoa. E o conhecimento sobre esta pessoa, dependendo do caráter dela, traz confiança ou desconfiança. Ao se aproximar de Deus, o homem começa a conhecer Deus (o seu caráter e os seus atributos), e este conhecimento traz confiança em Deus. Esta confiança faz com que o homem encontre APOIO em Deus e esse APOIO É a RECOMPENSA de Deus para aqueles que o buscam.
Ou seja, a recompensa de Deus para aqueles que o buscam é o apoio necessário para que você permaneça em pé quando faltar o chão debaixo dos seus pés: “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido” (Sl 91.7), “Mas alegrem-se todos os que confiam em ti; exultem eternamente, porquanto tu os defendes...” (Sl 5.11), “Em ti confiam os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, não abandonas aqueles que te buscam.” (Sl 9.10), “Andando eu pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo” (Sl 23.4), “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará.” (Sl 37.5).
Após entendermos o que é esperança e o que é fé podemos chegar a uma conclusão, no mínimo, confrontante e confortante: Falta de esperança não significa falta de Fé! Isso pode parecer um absurdo, mas a bíblia nos mostra no Antigo Testamento que isso é uma realidade: “Ainda que Ele me mate, nEle esperarei; (...) Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra, (...) e vê-lo-ei ao meu lado...” (Jó 13.15; 19.25-27a). Estes dois textos juntos nos mostram um homem que não tinha mais esperança, contudo ainda tinha fé em Deus. Outro exemplo, agora do Novo Testamento, nas palavras de Paulo: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos; portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Co 1.8-9).
Quando Jesus estava na terra, ele sempre desmascarava a falta de fé das pessoas. Pois bem, em João 11, no relato da morte de Lázaro, a Bíblia nos mostra uma conversa de Jesus com Marta, irmã do falecido. Ela e Maria, sua irmã, mandaram avisar Jesus da enfermidade de Lázaro. O texto diz: “Chegando pois Jesus, encontrou-o já com quatro dias de sepultura. (...) Marta, pois, ao saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; (...) Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto? Respondeu-lhe Marta: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.” (Jo 11.17-27). Este Texto é bastante apropriado para o assunto em questão. Pelas palavras de Marta no início da conversa, percebe-se claramente que a esperança de Marta morreu junto com seu irmão. Ela já estava tão conformada com a morte de lázaro que quando Jesus disse que ele ia ressuscitar, ela entendeu que Jesus estava falando do dia da ressurreição dos santos, no futuro. Apesar de não ter mais esperança, a sua fé em Cristo permanecia inabalável: a expressão “Mesmo agora” indica que Marta ainda cria no Senhor, apesar de não ter mais esperança de que seu irmão voltasse a viver naquele momento. E então ela confessa verbalmente a sua fé no Senhor Jesus. É possível ter fé em Deus mesmo quando a esperança já está enterrada “a quatro dias”.
Mas enquanto viva, a esperança deve andar junto com a fé. Na vida de uma pessoa equilibrada, tanto a esperança como a fé estão presentes nos seus momentos de comunhão com Deus, principalmente durante nossas orações. Tomemos como exemplo a oração de Jesus no monte do tormento: “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). Vemos na oração de Jesus que temos liberdade diante do Deus Pai de expressarmos a nossa vontade, nossas esperanças, nossos desejos (todos estes altamente influenciados por nosso ego). Contudo depois de expressarmos a nossa vontade, como Jesus devemos expressar a nossa confiança em Deus “não seja como eu quero, mas como tu queres” e assim demonstrar que, apesar das nossas esperanças, a nossa fé nEle nos faz confiar nEle a tal ponto que deixamos Ele com toda a liberdade para fazer da forma como ELE julgar melhor.
Essa é uma diferença-chave entre a esperança e a fé: a nossa esperança dá sugestões a Deus (o que fazer, como fazer, quando fazer, com quem fazer, etc.) enquanto que a fé diz para o Senhor que “eu confio em Ti a tal ponto que entrego tudo nas Tuas mãos para que o Senhor faça o que quiser da minha vida, Eu confio em Ti e por isso eu sei que Tu farás o que for melhor para mim”.

 

Salmo 37

23 Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita;
24 ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão.

39 Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia.
40 E o Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios e os salva, porquanto confiam nEle.

Por: Pr. José Guilherme Cerqueira da Guia

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